Brisas da Praia. Foi assim que o jornal Santa Cruz Surf exibiu o título de sua coluna na segunda página do diário do dia 20 de julho de 1885. Dedicada as atividades à beira-mar do fim de semana, a notícia seguiu assim: “A tarde de domingo na praia foi uma das mais animadas na temporada. Estava quente, muito quente, mas temperado por uma brisa, o que tornava o calor ável e mantinha as pessoas bem-humoradas”.
A tal brisa ia além do vento fresco que soprava na costa. Ela trazia novos ares para os
praticantes de esportes e frequentadores da badalada praia. Os turistas tinham motivos de sobra pra comemorar, afinal a estrada South Pacific Coast, concluída em 1880, conectava Santa Cruz ao resto do país, trazendo visitantes de todos os cantos. Naquelas férias, hotéis e pensões estavam cheios, promovendo as principais atrações da cidade litorânea.
De acordo com o artigo, aquele domingo ofereceu boas condições de mar e as ondas, uma
divertida brincadeira. Cerca de 30 ou 40 banhistas aproveitaram o mar, nadando e mergulhando nas ondas aos olhos atentos dos espectadores que enchiam as areias da praia.
Enquanto isso, um pouco mais a leste, na foz do rio San Lorenzo, a história estava sendo feita. Três príncipes havaianos – David Kawananakoa, Edward Keliiahonui e Jonah Kuhio
Kalaniana’ole – deslizavam nas ondas sobre imensas pranchas de madeira de 15 pés, feitas de sequoias, as primeiras construídas fora do Havaí, com madeiras e ferramentas locais. Os
príncipes havaianos visitavam Santa Cruz naquela temporada de férias. Os irmãos frequentaram as melhores escolas do Havaí em preparação para a monarquia.
Em 1884, David foi enviado para St. Matthe’s Hall, uma escola militar californiana. Seus irmãos chegaram à escola no ano seguinte. Eles eram sobrinhos da rainha consorte Esther Julia Kapi’olani, casada com o rei David Kalakaua. Foi o próprio rei quem ensinou os sobrinhos a surfar na praia de Waikiki.
Em 1890, os irmãos Jonah Kuhio e David Kahakepouli também viajaram para a Inglaterra para estudar istração em Gloucestershire, no Royal Agricultural College, e escolheram o sombrio Mar do Norte, na costa leste, como destino de surfe. Os habitantes da Inglaterra
vitoriana ficaram incrédulos ao ver os príncipes havaianos de peles escuras e cabelos brilhando, remando e surfando na costa de Bridlington sobre suas grandes pranchas de madeira. Portanto, os pioneiros do surfe nos Estados Unidos também introduziram a prática na Inglaterra.
Tradicionalmente, o surfe no antigo do Havaí era intimamente ligado à cultura dos anteados. O surfe expressava uma atitude de reverência pela natureza e um estilo de vida. Todas as classes de havaianos surfavam, de jovens a idosos. Elaborar a prancha de surfe era uma atividade sagrada. Envolvia selecionar a árvore adequada, fazer oferendas aos deuses para pegar a árvore e um processo intrincado para moldar a prancha.
A julgar pelos relatos do jornal Santa Cruz Surf, os príncipes surfistas foram os primeiros
surfistas e deixaram sua marca para sempre. Esse dia inesquecível do ano de 1885 tornou-se um momento significativo na história e na cultura da cidade praiana.
O ato pioneiro de surfe em Santa Cruz tornou-se importante na formação da tradição local, a ponto dela se tornar conhecida como Surf City, a cidade do surfe, a pioneira de toda a costa oeste continental dos Estados Unidos a receber essa cultura dos antigos polinésios.
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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.