Espêice Fia

Nas ondas dos Lençóis

Fabio Gouveia desbrava as paradisíacas e intocadas ondas dos Lençóis Maranhenses (MA).

0
Fabio Gouveia exalta o potencial do surfe nos Lençóis Maranhenses.

Em meados dos anos 90, conheci um cabra do Maranhão em algum evento de surfe no nordeste, creio que em Maracaípe. Já cheguei na curiosidade, perguntando para Alvaro Bacana se na terra dele havia onda. Franzino e simpático, Bacana respondeu dizendo que em São Luis davam umas boas.

Ainda moleque, ele se jogou pro Sul do Brasil com a cara e a coragem de um cabra que sabia exatamente o que queria. Aportou em Floripa e a sua evolução foi nítida. Ótimo competidor e exímio tube rider, Alvaro veio à tona. Há alguns anos, volta e meia tocávamos no assunto “ondas no Maranhão”. Aliás, ondas nos Lençóis Maranhenses.

Estar em meio às maravilhas daquela natureza – o que já era sonho pra mim – ficou ainda mais convidativo com a possibilidade de pegar onda no local. Claro que mais cedo ou mais tarde iria para aquelas bandas, afinal, jamais quero deixar de conhecer nosso “Brasilzão”.

Mas as conversas foram se estreitando quando surgiu na pauta uma segunda temporada de nosso programa no canal Off: “A Onda é se Divertir”, com uma expedição para os Lençóis. Com a pandemia, nossos sonhos iam sendo adiados – e o fato de não termos fechado naquele momento uma segunda temporada de nossa série nos impossibilitava de efetuarmos a empreitada.

Mas, embaixador de sua terra que é, Alvaro não desistiu e fez esforços para tudo acontecer. A Federação Maranhense de Surf vem em uma escalada organizacional e mostra estar no caminho certo para colocar o estado de uma vez na rota do surfe, não apenas em pororoca, mas em água salgada. Com os seus integrantes – não digo “diretoria” pelo fato de deixarem bem claro que ali todos tem o mesmo papel (elevar o surfe do estado) – a @femasurf.oficial correu em busca de parceiros e, aos 45 do segundo tempo da temporada propícia para o surfe (dezembro a maio), estávamos lá.

Saímos de Floripa, eu, Bacana e o fotógrafo / videomaker Renato Tinoco. Nos bastidores, nosso produtor Luciano Burin alinhava tudo com Gleydson Lima, lá da Ilha de São Luís. Madrugada e manhã nos ares adentro, aterrissamos na capital maranhense para irmos direto ao shopping local visitar o primeiro de nossos parceiros, a Overall Surf.

Apresentações, fotos e com os buchos devidamente cheios, pegamos a estrada com nosso recém-conhecido amigo, Eduardo Lobato. Na parada para abastecer, encontramos o resto da equipe para a expedição. Uns cinco veículos 4×4 alinhavam umas 12 cabeças para as três horas de estrada até Santo Amaro, cidade onde ficaríamos hospedados.

Fia em meio à paisagem paradisíaca do local.

Com os tanques cheios, apoiados pelo Posto Roma Truck, seguimos viagem. Chegamos ao anoitecer para descansarmos para o dia seguinte. Na Pousada Izabelle, a ansiedade durante a noite era tremenda. Mas logo ao clarear, encontramos o restante da galera na pousada Nosso Recanto para tomar um café e fazer os ajustes finais. Seca pneus, mede calibragem e, juntamente com nossos guias, seguimos nas duas Toyotas apelidadas carinhosamente de “Pitbull” e “Talibã”.

Visual incrível, quando subíamos a primeira duna e logo avistávamos a primeira lagoa azul-turquesa. Fiquei alucinado, pois meu sonho estava sendo realizado. Com um certo receio, vi a primeira travessia de uma lagoa. Com água pelas portas, as irmãs pickups aram bem sob a destreza da pilotagem dos guias. Que visual! Cabras, jumentos, cavalos e porcos iam batendo perna quando nos avistavam. A fauna era incrível, garças e mais garças até o nosso primeiro avistamento do mar – após uma hora de travessia.

Aportarmos no primeiro pico e estava pequeno, mas com vento terral. “Galera, vamos seguir até o pico da ‘Boia’ mais ao leste”, disseram os legends locais Marcelo Piu Piu e Lobato, que encabeçavam os palpites. A Boia era uma referência vinda do mar, que na real era uma parte desprendida de um atracador de navio vinda sei lá da onde. Até filmei e bati fotos para pesquisar, mas até o momento não consegui muita informação. Mas o pico estava ali. Marolas com formação triangular deram as boas-vindas.

Cheios de gás e ansiedade, a turma toda partiu pro surfe. A primeira impressão foi boa, mesmo pequena, a onda empurrava e a formação estava legal. Ao final da manhã, o vento começou a apertar e resolvemos sair. A surpresa foi grande quando vi parte da turma se banhar em uma lagoinha logo atrás do pico: “Oxê, é agua doce, é">