
Em meados de maio, meu WhatsApp tocou: “Câmbio, bandido! Tu não me leva pra surfar em Ubatuba, não? Tenho mó vontade de conhecer aquela onda do Baguari.”
Era meu amigo Leandro Machado, do Rio de Janeiro, carinhosamente apelidado de Anão.
Trabalhador, local do Catete, poucos anos de surf e longboarder apaixonado pela modalidade.
“Eu te levo, Anãozinho! Sabe que estou na correria forte para o Longboarding Experience, que vai rolar lá na praia do Sapê, né? Uma ida até Ubatuba viria a calhar para resolver alguns detalhes do evento.”
Anão: “Não vai embaçar lá, não, né? Quero ir pra pegar onda, não pra te ajudar a resolver seus problemas.”
Eu: “Aqui é surf, filhão. Só trabalho nas horas vagas!”
A previsão mostrava uma semana com condições bem variadas, o que seria importante para o Anão se testar em ondas diferentes. Levei o fotógrafo Paulo Camargo comigo.
Chegamos no ápice do swell. Fiquei tentado de ir até Itamambuca, mas resolvi começar devagar com o Anão. Fomos para o Sapê, pois sabia que as condições estariam mais amenas por lá.
Pouco mais de 1 metro, ondas bem alinhadas, mas como a ondulação vinha do quadrante sul, era preciso escolher as certas. Eu só pensava em Itamambuca.
“Vamos surfar, depois eu resolvo as paradas do evento.”
O Paulo resolveu surfar também. Acelerei o Anão e entramos em frente ao ilhote. A arrebentação estava chata. As séries eram incessantes. Um tempo depois, ele aparece meio cansado. Dei umas dicas sobre o pico e sua prancha nova. Ele pegou algumas, mas percebi que não fez a cabeça. Ficou com cara de poucos amigos. A Renata Porcaro apareceu no fim da session.
“Todo mar oferece um aprendizado. Um bom posicionamento faz a diferença. Reparou como a Renata só escolhia as ondas que ela tinha certeza que iam abrir? Se você pegar qualquer uma só porque vai conseguir entrar nela, vai perder a sintonia com as melhores e gastar energia à toa. Boas escolhas garantem a evolução. Precisa de boa pista para praticar as manobras.”
Fiquei meio bolado porque o Anão não se divertiu e porque não fizemos nenhuma imagem para anunciar o evento. Pensei comigo: “Tudo bem, amanhã faremos… se não chover.”
Como de costume quando viajo, a primeira noite dormi mal. Acordei bipolar. Chovia! Gosto do café ado naquelas cafeteiras italianas de alumínio, que não pode deixar a água ferver, senão o café amarga. O Anão deixou ferver e já foi motivo para meu humor despencar de vez. Mesmo assim, tomei um balde. Fiquei pilhado. Precisava gastar energia.

Checamos o mar em frente de casa na Praia Grande e percebi que estava pesado, com influência de sudeste.
“Porra, devia ter caído em Itamambuca ontem. Agora o canto deve tá ruim”, falei, fazendo questão de reclamar.
Anão: “Vamos no Sapê. Tu não precisa fazer imagem para o evento" data-r4ad-mobile>